quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Contra o Machismo

À medida em que o tempo passa, a sociedade altera seus modos e costumes comportamentais, de maneira que só percebemos isto na longa duração da História. Poucos de nós vimos os homens de antigamente levantarem levemente seus chapéus ao cumprimentarem alguém na rua, por exemplo. Podemos ter visto a evolução tecnológica do video-cassete para o dvd e depois blu-ray. Mas, infelizmente, algumas coisas não mudam.

A intolerância, o preconceito, a falta de respeito, parecem inerentes à condição humana. Esta semana, uma aluna da USP foi atacada no banheiro da Escola Politécnica. O triste caso ganhou notoriedade da mídia, contudo, quantos são os casos em que isso não acontece e o agressor escapa impunemente? A agressão, chegando às vias de fato ou não, talvez possa entendida como uma falsa superioridade que o homem tem pela mulher, o que sabemos que é uma construção ideológica histórica sem fundamento algum.

Um exemplo agressivo deste comportamento são as cantadas às quais as mulheres são submetidas todos os dias, tratadas como uma mercadoria, algo palpável e de fácil aquisição. A leitora do blog, Julia Sellanes, postou em seu perfil numa rede social o depoimento que aqui trazemos na íntegra:

"Vai virar quase um desabafo, mas pelo menos não será gratuito. E sinto, ficou mais longo do que imaginava.
Essa semana tive uma experiência absurdamente desagradável. Mas que me ensinou algo relevante: como o machismo é tão enraizado em nossa sociedade, e perpetuado fortemente pelo próprio sexo feminino. Que ( sem brincadeira) desconhece o que é Machismo.
Conto o caso: Estava eu andando até o banco, em plena avenida movimentada, horário de almoço. Na direção contrária vem vindo dois homens, e um deles, ao passar por mim resolve "mexer" comigo, incluindo uma tentativa física de " tirar um casquinha", enquanto ele passava por mim. Fiquei chocada, como que não acredita que está acontecendo, só com a reação de se afastar o mais rapidamente e correr.

(Você pode falar "Ah Julia, mas isso acontece toda hora". E eu concordo. Acontece toda hora. E por acontecer toda hora e ser algo "pequeno" para muitos, digo que o machismo está mais enraizado ainda.)

Tal foi minha surpresa que, contando para algumas colegas, recebi a seguinte resposta " Julia, isso não é machismo. Isso é desrespeito. Esse cara é um maníaco". E isso, senhoras e senhores, me deixou quase mais chocada do que o ato em si.

Como assim isso não é machismo?? É óbvio que é um desrespeito para com minha humanidade. Mas é também machismo!! Vamos tentar pensar com a cabeça daquele indivíduo, que se sentiu no direito de se aproveitar de mim naquele momento. O que esta pessoa pensa que uma mulher é? Para ele, somos como carne, como um objeto. Eu não tenho vontade própria. Não existe o mínimo achismo de imaginar que talvez eu não quisesse ser abordada por um estranho, me dizendo o que ele está afim de fazer comigo. Não existe o mínimo. Sou um cachorro vira-lata, uma lixeira, uma mulher. Existo para alguns fins específicos, dentre eles, ficar quieta e " agradecer" por ser elogiada por um estranho na rua. É óbvio que isso é machismo. Existe um sentimento de superioridade em relação a minha pessoa. Afinal "sempre ouvimos essas coisas. E sempre vamos ouvir".

Quer saber quando a coisa é "machismo" ou "sexismo"? Simplesmente troque os papéis da ação. Acha possível uma mulher INTIMIDAR um homem em plena rua movimentada? Óbvio, que existem os casos...mas é regra? É regra mulher bater em homem, dentro de casa, sem o mesmo poder se defender? É regra uma mulher estuprar um homem? É regra um homem estar andando sozinho na rua com medo de ser violentado de algum jeito por uma mulher? Não é regra, não é mesmo? Todo o contrário é muito mais possível, não? Isso é sexismo. Isso é machismo. São violências específicas, quase como uma tradição de violência, para com um ser que...bem...ninguém quer saber o que ela acha do seu "princesa", " gatinha" ou " ô la em casa", não é mesmo? Isso é sentimento de superioridade de um sexo em relação ao outro. Isso é machismo.

" Mas Julia ! Se não posso chamar a garota de gatinha na rua, como vou chegar nela?Como posso conhecê-la...afim de rolar uma linda história de amor???" . Já tentou um simples " bom dia" ? Que tal mostrar pra ela que ela é um ser humano, e não uma picanha?

Chamar o indivíduo que me abordou de " maníaco" é muito fácil. É tirar todo o teor de machismo que existe dentro dele. Ele não era um maníaco, um bêbado, cheio de crack. Tava na cara que ele saiu de algum serviço para almoçar. Era um cara normal. Pq é daí que sai o machismo! De caras absolutamente normais, pais de família. Ele não era uma maníaco. Simplesmente um cara acostumado a tratar mulher como carne. O machismo é normal. É regra. Estamos acostumadas. A tal ponto, que nem vemos o machismo, o sentimento de superioridade. Ou você não conhece nenhum homem que no mínimo um " ô lá em casa! " já não gritou para uma garota? Isso é tradição da violência. Isso é machismo."

O Futebol, História e Futilidades é totalmente contra qualquer tipo de desrespeito. 

Machismo aqui é bola fora!!! 

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