Por AMFP e Martins
Protestos e vaias começaram a
ecoar nas arquibancadas. Nessa hora eu já estava em um momento catártico e
confesso que só me lembro de relance o que ocorria em meu redor.
Em outro contra-ataque, o golpe
de misericórdia: Higuaín marcou o terceiro gol do River.
A partir disso, o clima no
estádio ficou pesadíssimo. Pressenti que algo de ruim parecia próximo e resolvi
que iria embora antes do jogo terminar. Ia voltar de transporte público mesmo,
não iria esperar o pessoal da organizada. Só queria chegar logo na minha casa,
com o coração destruído mais uma vez, por uma das derrotas mais sofridas que vi
no estádio.
Em todas as minhas idas ao
estádio acompanhar o Corinthians, era a primeira e única vez que saí antes do
jogo terminar. Na verdade, não consegui sair...
Lembro que o gol que sacramentava a vitória inconteste do River e a
eliminação do Corinthians bateu em mim como um meteoro. Do gol adversário,
lembro apenas do som de desgosto da torcida. Nesse momento, por mais estranho
que possa parecer, entrei em algum tipo de estado de choque, que deve ter
contribuído para a alteração já citada de minhas lembranças desse dia.
Quando estava me dirigindo ao
portal principal, fui interceptado por uma horda de corinthianos vindos das
arquibancadas amarelas e verdes. Num piscar de olhos, me vi no meio da
multidão, um monstro sem rosto e coração como diria Mano Brown. Comecei a ser
espremido e empurrado: não pensei duas vezes! Como sou macaco velho de estádio,
comecei a empurrar, xingar...fui tomado por aquela ira coletiva que pairava no
Pacaembu aquela noite.
Depois de contidos por uma dúzia
de PM’s, a multidão se dispersou. Eu, entre eles.
Da indesejável reação do gol argentino até ser chamado à realidade por
meu amigo, no momento da dispersão da torcida subindo as arquibancadas, não
consigo lembrar de nada.
Quando retomei consciência de si,
rumei para o portão principal, cabisbaixo. E dores, muitas dores: pela derrota
sofrida e pelos empurrões e borrachadas entre a multitudão.
Por onde saí do estádio, não sei. Como era acostumado nos jogos de
quarta-feira em que íamos eu e Bro’z, por morarmos perto ele me deixava em casa. Mesmo forçando,
não consigo lembrar do caminho ou algo do tipo, se conversamos no trajeto. O
que sei é que amanheci em
casa. Triste. Foi a primeira derrota realmente sentida que
acompanhei no estádio. As outras, contando a Copa do Brasil do ano anterior,
superei como se fossem acidentes normais de percurso. Essa não...
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